Desde os 15 anos que Muhammad Najem conta as histórias de quem sofre com o conflito em Ghouta Oriental.
Há um jovem sírio que, desde 2017, tem feito sua missão contar as histórias de quem morre, de quem sofre, de quem sobrevive aos horrores da guerra na Síria. Aos 15 anos, Muhammad Najem começou a mostrar ao mundo, através da sua conta de Twitter, toda a verdade sobre o conflito em Ghouta Oriental e, apesar da tenra idade, revelou grande coragem e sangue-frio.
Agora, em entrevista ao El País, Muhammad conta a sua história e como começou a vocação de repórter de guerra: "Vi coisas que nenhum ser humano deveria ver. Ficam gravadas na memória para sempre. Comecei a fotografar e a fazer vídeos porque estavam a matar os meus amigos, a minha família, e toda a gente ficava calada. Precisava que todo o mundo visse com os próprios olhos a verdade, o horror do que estava a acontecer".
Antes tinha tido uma infância como outra qualquer, passada a brincar com os amigos na rua, mas tudo acabou quando o conflito mudou radicalmente a realidade em Ghouta Oriental, onde o adolescente, hoje com 17 anos, vivia com a família. Quando começou a relatar a guerra nas redes sociais, o objetivo era que alguém viesse intervir no conflito para o terminar. Fugiu do país e está em Instambul, na Turquia, na condição de refugiado.
"Estava numas zonas mais devastadas pela guerra, e ali mostrei a minha realidade, o meu mundo em cada momento. As imagens são cruciais para se conhecer a verdade sobre a Síria", explica o jovem, recordando a reportagem que mais lhe custou fazer: quando um caça arrasou a casa de um amigo seu, Salim, que perdeu a mãe a irmã nesse dia. "Foi muito difícil gravar aquele vídeo. Estava de coração partido e as palavras custavam a sair".
Muhammad Najem assume que se quer dedicar totalmente ao jornalismo e tem tido aulas de inglês, agora ensinadas via Internet, devido à atual pandemia do novo coronavírus. Diz que quer "levar a verdade a todos os noticiários do mundo".
O adolescente continua focado no seu último objetivo: que a Síria recupere e seja reconstruída, que volte a pertencer aos seus cidadão, que quem cometeu tamanhas atrocidades e crimes contra a humanidade seja julgado e punido. Muhammad termina com uma mensagem de união para todos os jovens: "Devemos unir-nos todos e falar. Se todos nos levantarmos e nos manifestarmos contra a guerra e a injustiça, podemos mudar as coisas".